Conrad Murray era praticamente um desconhecido até oito meses atrás. Mesmo assim, o caso do médico de Michael Jackson tomou proporções de um julgamento de celebridade, com direito a imprensa e paparazzi cercando a casa do acusado e o perseguindo aonde quer que vá. O simples rumor de que poderia ser preso ou se render fez com que um exército de fotógrafos do mundo todo corresse para o tribunal.
Parece certo que o doutor Conrad Murray vá se juntar ao grupo de O.J. Simpson, Robert Blake e Phil Spector no panteão das celebridades acusadas de Los Angeles, mesmo que ele seja um cardiologista obscuro do Texas envolvido em um caso de negligência médica.
“Não há surpresas aqui. Sabemos como a vítima morreu, e quem supostamente deu o medicamento a ela. Mas trata-se de Michael Jackson. Os programas e noticiários podem mostrar cenas intermináveis do astro pop cantando. Talvez seus filhos apareçam no tribunal, e seria um dia e tanto”, analisa Judy Muller, que ganhou um Emmy pela cobertura da ABC do julgamento de O.J. Simpson, inocentado da acusação de assassinato em 1995.
“Detesto ser cínica, mas estou nessa há tempo suficiente para saber como vai ser”, acrescenta. “É Michael Jackson e é um julgamento de uma celebridade, mesmo que ela esteja morta, e particularmente em Los Angeles nós somos conhecidos por isso.”
O médico de Elvis Presley
Esta não é a primeira vez que um julgamento envolve uma celebridade morta. Em 1981 um júri do Tennessee inocentou o Dr. George Nichopoulos por ter prescrito drogas a Elvis Presley, cujo organismo continha 14 diferentes substâncias quando ele morreu, em 1977. Mas, relativamente, ninguém prestou muita atenção ao caso.
“Aquilo foi numa outra era, num tempo muito mais inocente”, diz o consultor de mídia Jonathan Taplin, de Los Angeles. “Você não tinha uma máquina de alimentar celebridades ligada 24 horas por dia sete dias por semana.”
O mesmo aconteceu fora de Los Angles, com a mídia cobrindo o caso de Charles Manson, que em uma noite de agosto de 1969 invadiu a casa da atriz Sharon Tate e assassinou a estrela e seus amigos a facadas.
O julgamento do próprio Michael Jackson, perto de Santa Bárbara em 2005, durante o qual o cantor foi absolvido das acusações de abuso infantil, atingiu pontos altos na escala das celebridades, com fãs maravilhados ao ver o rei do pop dançando do lado de fora do tribunal em um dia, ou então usando pijamas, no outro.
A maneira como o julgamento do médico será comparada aos outros depende de alguns fatores intangíveis. Se o juiz permitir a entrada de câmeras de TV no tribunal, por exemplo, isso provavelmente vai alavancar o interesse.
“Um exemplo disso aconteceu durante o julgamento de Phil Spector”, diz o promotor federal Jean Rosenbluth. Com as câmeras no tribunal, as pessoas podiam assistir ao produtor musical chegando todos os dias com as suas perucas engraçadas e roupas ao estilo dos anos 1960. Mas, quando as câmeras foram proibidas, o interesse no caso empalideceu.
“Michael Jackson é dois milhões de vezes Phil Spector”, diverte-se Rosenbluth, acrescentando que a influência do rei do pop foi tão grande e sua morte aos 50 anos tão devastadora para os fãs no mundo inteiro que o interesse no julgamento do médico deve ser imenso.
'Menos emoção'
Há inclusive vários grupos em redes sociais em diversas línguas batizados de “Eu odeio Conrad Murray” e “Prendam Conrad Murray”. Por maior que seja Michael Jackson, no entanto, não se sabe se o caso do médico do rei do pop vai ofuscar o julgamento de O.J. Simpson.
O crítico Todd Boyd, autor de uma obra extensa sobre cultura pop e relações humanas, observa que neste caso não há questões raciais envolvidas, como aconteceu com Simpson. Murray, por sua vez, é acusado de matar acidentalmente Michael Jackson administrando um poderoso sedativo, o que segundo o estudioso pode reduzir a emoção.
“Não é como se uma pessoas tivesse ido lá e tirado a vida do cantor”, diz. “Este é um caso em que um médico é acusado simplesmente por tratamento inadequado e, por extensão, de homicídio culposo.”